Uma história de amizade e traição, que nos leva dos últimos dias da monarquia do Afeganistão às atrocidades de hoje. Amir e Hassan cresceram juntos, exatamente como seus pais. Apesar de serem de etnias, sociedades e religiões diferentes, Amir e Hassan tiveram uma infância em comum, com brincadeiras, filmes e personagens. O laço que os une é muito forte: mamaram do mesmo leite, e apenas depois de muitos anos Amir pôde sentir o poder dessa relação. Amir nunca foi o mais bravo ou nobre, ao contrário de Hassan, conhecido por sua coragem e dignidade. Hassan, que não sabia ler nem escrever, era muitas vezes o mais sábio, com uma aguda percepção dos acontecimentos e dos sentimentos das pessoas. E foi esse mesmo Hassan que decidiu que Amir seria, durante a batalha da pipa azul, uma pipa que mudaria o destino de todos. No inverno de 1975, Hassan deu a Amir a chance de ser um grande homem, de alterar sua trajetória e se livrar daquele enjôo que sempre o acompanhava, a náusea que denunciava sua covardia. Muito depois de desperdiçada a última chance, Hassan, a calça de veludo cotelê marrom e a pipa azul o fizeram voltar ao Afeganistão, não mais àquele que ele abandonara há vinte anos, mas ao Afeganistão oprimido e destruído pelo regime Talibã. Amir precisava se redimir daquele que foi o maior engano de sua vida, daquel dia em que o inverno foi mais cruel.
Ainda lembro a sensação de revolta, tristeza que tive em alguns momentos em que o lia, não imagino o quão terrível deveria ser conviver com o regime Talibã, mas sei que nunca chorei tanto, como com este livro.
Esses trechos verdadeiramente me emocionaram:
"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar."
"— Já menti para você, Amir agha? De repente, resolvi implicar com ele. — Sei lá — respondi. — Já?
— Mil vezes comer cocô! — exclamou ele com ar indignado.
— De verdade? Você faria isso?
Ele me lançou um olhar desconcertado.
— Faria o quê?
— Comer cocô, se eu mandasse — respondi. Sabia que estava sendo cruel, como naquelas vezes em que debochava dele quando não conhecia uma palavra qualquer. Mas havia algo de fascinante, embora de um jeito doentio, em implicar com Hassan. Era um pouco como brincar de torturar insetos. Só que, agora, ele era a formiga e eu é que estava segurando a lupa.
[...]
— Se você mandasse, faria, sim — disse ele afinal, olhando bem para o meu rosto. Baixei os olhos. Foi aí que descobri como é difícil olhar diretamente nos olhos das pessoas como Hassan, essas pessoas que dizem sinceramente o que pensam. — Mas fico imaginando... — acrescentou ele. — Será que algum dia você me mandaria fazer uma coisa dessas, Amir agha?
E, com isso, Hassan me propôs um pequeno teste. Se eu ia provocá-lo, desafiando a sua lealdade, ele ia fazer o mesmo, pondo à prova a minha integridade.
Adoraria não ter começado aquela conversa. Dei um sorriso forçado.
— Não seja idiota, Hassan. Você sabe muito bem que eu não faria isso!
Ele também sorriu. Só que o dele não parecia forçado.
— Eu sei — disse.
E esse é o problema das pessoas que são sinceras: acham que todo mundo também é.""— Quanto tempo demora? — perguntou ele.
— Não sei. Um pouco.
Sohrab deu de ombros e voltou a sorrir, desta vez era um sorriso mais largo.
— Não tem importância. Posso esperar. E que nem maçã ácida.
— Maçã ácida?
— Um dia, quando eu era bem pequenininho mesmo, trepei em uma árvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ácidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu à beça. A mãe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, não teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade, tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs.
— Maçãs ácidas... — disse eu. — Mashallah, você é sem dúvida o sujeitinho mais esperto que já conheci, Sohrab jan. — Ele ficou vermelho até a raiz dos cabelos.""— Não é não! Esse lugar não. Ah, meu Deus. Por favor, não! — Sohrab estava tremendo, com o nariz escorrendo e o catarro se misturando com as lágrimas.
— Ei! — sussurrei, puxando-o para junto de mim e abraçando aquele corpinho que se sacudia. — Shhh! Vai dar tudo certo. Vamos para casa juntos. Você vai ver, vai dar tudo certo.
A voz dele soou abafada contra o meu peito, mas pude perceber o pânico que havia ali.
— Por favor, prometa que não vai fazer isso! Ah, meu Deus, Amir agha! Prometa que não vai fazer isso!
Como poderia fazer essa promessa? Apertei Sohrab nos meus braços, bem junto do peito, e fiquei balançando para frente e para trás. Ele ficou chorando em minha camisa até as lágrimas secarem, até o tremor cessar e as suas súplicas se transformarem em murmúrios indecifráveis. Fiquei esperando, balançando com ele, até que a sua respiração voltou ao normal e o seu corpo relaxou. Lembrei de uma coisa que tinha lido há muito tempo: 'É assim que as crianças lidam com o terror. Adormecem.'"Me emocionam até hoje...
Aiin.. Já li! Ameei.
ResponderExcluirMuito envolvente, e emocionante.
Recomendadíssimo para quem ainda leu.
Ah, obrigada pela visitinha tbm, e por me linkar. Tbm vou linkar-te ;D
Beijos
Déh Leal
Muitas pessoas que conheço e já leram o livro falam muito bem dele.Estou louca para ler O Caçador de Pipas
ResponderExcluireu simplesmente ameeeeeeei esse livro!
ResponderExcluirLeia flor, ele é ótimo!
ResponderExcluirEsse livro é lindo, emocionante, é MUITO BOM, e eu super recomendo para quem esteja procurando uma boa leitura! Sério, não vão se arrepender. :)
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